A velocidade e a versatilidade com que se tem propagado o desenvolvimento do turismo no Brasil e no mundo colocam em debate profundas reflexões, quanto aos seus objetivos, finalidades e características que o definem em sua natureza, de mercado e como fenômeno a ser estudado cientificamente no interior da academia.
De um lado podemos conceituar o turismo como uma atividade, setor, indústria, produto ou fenômeno transcendendo o espaço a ser ocupado profissionalmente, mesmo não havendo a regulamentação ou normatização que o justifique. Apesar dessa regulamentação ser entendida como uma anomalia por alguns ditos entendidos do turismo. Por outro lado, temos o fazer turismo sendo executado de maneira perigosa e nociva ao meio ambiente, à cultura e à história e, mais efetivamente, ao cidadão brasileiro.
A partir dessa linha de raciocínio é que quero oferecer minha posição, de maneira autônoma e independente, sem o encarceramento das lógicas personalísticas, ideológicas e políticas que tanto tem identificado certas posições e atitudes dentro do contexto literário turístico de nosso país.
Contudo, antes de adentrar a exposição de motivos sobre o tema que nomina este artigo, é bom refletir algumas citações que considero ser de grande valia para o entendimento das argumentações que farei doravante.
Uma das citações que considero elementar para transpor a necessidade de uma ordenação e organização do turismo, é apresentada por Doris Van Menne Ruschmann quando, de maneira positiva, infere sobre a ausência de planejamento do turismo:
A ausência de planejamento (...) acaba por gerar crescimento descontrolado na localidade, que leva à descaracterização e perda de originalidade dos recursos que motiva o fluxo de turistas. E assim começa a decadência da localidade como destinação turística. (in ANSARAH, 2001: 85)
Faço questão de registrar essa citação para demonstrar os perigos e os riscos da execução turística feita de maneira desordenada e sem nenhuma preocupação com a questão profissional.
A segunda citação refere-se ao conteúdo comercial e mercadológico como vem sendo tratado o turismo, não observando, conseqüentemente, a relação do cidadão a partir da sua iniciativa de ser turista e, evidentemente, da sua vontade de não ser apenas um viajante, mas ter a sua cidadania respeitada. Margarita Barreto evoca a questão do leigo para demonstrar o dinamismo do turismo e o fenômeno em que se constitui.
Embora ainda alguns círculos, principalmente leigos, vejam o turismo apenas como a “indústria de viagens de prazer”, trata-se de algo mais complexo do que um simples negócio ou comércio (...) o turismo é um amálgama de fenômenos e relações, fenômenos estes que surgem por causa do movimento de pessoas e sua permanência em vários destinos. (BARRETO, 2000: 12)
A próxima citação tem como intuito chamar a atenção para a questão do amadorismo profissional e autoritarismo que tem tido uma presença fortíssima nos projetos (se é que podem ser definidos como projetos) turísticos executados. E é a partir dessa citação que proponho a construção de uma reflexão crítica sobre a regulamentação do profissional de turismo. Talvez o próprio autor da citação aqui inserida não tenha a sua predisposição para a defesa da regulamentação nos moldes que considero ser ultra-importante para o bem do turismo, do turista e das comunidades no Brasil, mas com certeza não há como negar que a mesma tem elementos fortíssimos para a efetiva normatização.
Luiz Gonzaga Godói Trigo, posiciona-se de maneira absoluta em defesa da qualificação profissional, que a meu ver, mostra com muita objetividade, que o sucesso do turismo no Brasil tem um elemento crucial a ser implementado: a regulamentação.
O autoritarismo e o amadorismo profissional levam as pessoas a pensarem de maneira individualista, medíocre e imediatista. Tudo isso leva a projetos e trabalhos superficiais e com pouca relevância, O pior é que, no caso de empreendimentos públicos ou privados, tornam-se ineficazes ou obsoletos em pouco tempo devido à falta de preparo para uma maior inserção social e mercadológica. Essas práticas imediatistas e fragmentadas impedem também ações planejadas articuladas entre governos, empresas e ONGs.(NETTO at TRIGO, 2003:105)
Encerrando as citações, faço questão de registrar a convicção de que o turismo só terá sua excelsitude e excelência a partir de uma competente política pública compartilhada e integrada à responsabilidade e solidariedade da iniciativa privada e dos organismos não governamentais, proporcionando uma constante reflexão sobre o “fazer turismo”.
(...) não se pode mais brincar de fazer turismo, pois a capacidade, a qualificação, a ética e o respeito ao ser humano, ao ambiente, à cultura e à história deverão sempre estar acima dos interesses pessoais e das iniciativas sem nenhum planejamento. (VELOSO, 2002: 2).
Assim, consideradas as citações acima, apesar de serem apenas algumas das inúmeras que poderia inserir nesse artigo, passo ao desenvolvimento do tema, esperando que as deflexões e reflexões sejam dignificadas e manifestadas a favor de uma proposta relevante que garanta o crescimento da conscientização sobre como, porque e quando agir em relação ao turismo.
O turismo leigo pode ser acentuado como turismo convencional ou turismo de massa em que a participação do turista é tida muito mais como um elemento comercial em que predomina a demanda desestruturada e sem nenhum procedimento organizacional legítimo sobre a boa oferta existente, mas que não é transformada ou transmitida como resultado saudável e preservado do ambiente, da população e da sociedade do destino turístico.
O turismo leigo é reconhecidamente visualizado, em grande proporção, nas excursões, passeios e na utilização de espaços e destinos turísticos, onde não há uma sinergia entre quem, o que e como oferece o produto ou serviço turístico e aqueles que o utilizam. Não se verifica, na maioria das vezes, a preocupação com a preservação ambiental (de maneira extensiva), com a capacidade de carga, com a comunidade (na sua essência nativa e natural), com a infra-estrutura existente (básica e turística) e com a economia local e do entorno, favorecendo e fortalecendo, cada vez mais, a propagação de ofertas de produtos e serviços turísticos sem o mínimo de preocupação com a qualidade e a profissionalização, fomentando a comercialização do achismo e do jeitinho brasileiro de levar vantagem.
O turista leigo não tem culpa nenhuma, aliás, ele é uma vítima em potencial. Culpados são aqueles que tem praticado de maneira leiga (nociva) a produção da atividade turística, sem nenhuma coerência, bom senso e respeito à comunidade, ao turista e ao ambiente. Não quero aqui generalizar o tratamento leigo existente hoje no exercício da prática da produção turística, pois é sabido que existem as partes boas, saudáveis e responsáveis e que deve ser tratada com deferência e respeito.
O poder público é outro grande culpado, pela insensatez com que tem administrado a política do turismo, sem uma efetiva ação para que sejam resguardados os interesses das comunidades locais, a cultura e o meio ambiente, frente ao abuso de empreendimentos e empresários, na sua maioria mercantilistas, provocando sérios e graves problemas de cunho social, humano e ambiental.
Culpados também são aqueles que, mesmo profissionais e até alguns ditos entendidos do turismo insistem, olhando nos seus próprios umbigos, em combater de maneira persuasiva e petulante a regulamentação da profissão do turismólogo. O ser contra a profissionalização e à regulamentação do turismólogo não deve se basear no princípio de que não há regulamentação em nenhum lugar do mundo ou que a mesma é uma coisa burocrática e inútil, apesar de que essas posições são dignas de serem discutidas, merecedoras de um debate mais amplo e menos evasivo, sem a particularidade da defesa exclusivamente pessoal como última instância.
O leigo (nocivo) no turismo tem crescido e fortalecido, assistindo toda uma movimentação de entidades, instituições, estudantes e profissionais de turismo que ficam apenas no debate sobre a profissionalização e regulamentação, sem nenhuma atuação mais objetiva. As oportunidades surgem e os acadêmicos de turismo vêem escaparem de suas mãos toda uma estrutura preparada e que necessita ser bem trabalhada, em decorrência da falta de união que tem prejudicado o avanço de uma verdadeira posição profissional e regulamentada do turismólogo, em que pese posições contrárias não tão claras e tampouco objetivas, muitas vezes disseminadas por algumas “estrelas douradas do turismo” que se julgam donas do saber e que insistem em manter uma razão inexplicável,
Ao defender a regulamentação do profissional de turismo, não quero aqui contra-argumentar posições individuais ou aquelas de cunho extremamente corporativas, mas posicionar pelo amplo debate em que se deve pautar tal normatização.
Não há como considerar inocuidade ou até uma superficialidade a regulamentação, pois entendo que a regulamentação será a efetivação de uma força “política, social e sindical” que estará acima de interesses mercadológicos e corporativos, predominando o respeito ao ato legal e responsabilizando, de maneira efetiva, o exercício do fazer bem o turismo. E o fazer bem o turismo não pode continuar sendo feito de maneira simplista, sem nenhum acompanhamento técnico e profissional, pois o resultado deve ser estabelecido pela satisfação apresentada pelo turista e não pela superficialidade das estatísticas e diagnósticos hoje emitidos pelas entidades públicas com o apoio inclusive de alguns ditos profissionais de turismo.
Assim, devemos fortalecer os laços em que as diferenças pessoais, acadêmicas e profissionais e os antagonismos políticos e sociais sejam substituídos pela unidade em prol do bom turismo, de maneira profissional, com qualidade, ética, respeito e responsabilidade para com o turista, o cidadão e o ambiente.
O turismo leigo é motivo de estudo e ótimo referencial para pesquisa.
O leigo no turismo é motivo de preocupação e importante argumento para a defesa da profissionalização do turismo.
A regulamentação é motivo de normatização da profissão e credencial para transformar o turismo em uma atividade altamente produtiva, dignamente social, fenomenalmente humana e exclusivamente qualificada
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/037/37eveloso.htm
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